Para conhecer uma cidade é preciso permitir que ela se apresenta para nós.
Foi isso que fiz quando cheguei em Catania, na Sicília, no último domingo. Deixei que ela surgisse além das minhas ideias prévias.
Na verdade, pouco sabia dessa ilha no sul da Itália além da história que aprendemos na escola – a Sicília foi parte de praticamente todas as civilizações da antiguidade. Gregos, romanos, ostrogodos, normandos, além do Império Bizantino. E, é claro, conhecia a Sicília dos filmes. Não só da máfia siciliana – o que você praticamente não vê por aqui, e os sicilianos odeiam que se fale sobre isso -, mas também Cinema Paradiso e O Poderoso Chefão.
(Mas vale conhecer as cidades que foram locações para o filme, mas isso é outra história – e outro post).
Uma tarde de domingo più italiana
Cheguei logo após o meio-dia em Catania e saí caminhando em direção à rua principal, a Via Etnea (claro, com relação ao vulcão Etna, visível de algumas partes da cidade e ativo, porém no momento não em erupção). E lugares como esse simplesmente aparecem na nossa frente. A gente para, respira e absorve um tanto de história: essa é a Igreja del Carmelo.
A praça em frente, em dias da semana e sábado, é tomada pelo mercado de peixes e produtos frescos. A Sicília não tem rebanho bovino e as ovelhas são principalmente para produção de queijo pecorino. Portanto, se vive de frutos do mar, vegetais e massa. Quer coisa melhor?
E a caminhada segue.
Cada esquina é uma história. A arquitetura mescla as diversas influências desse porto em meio ao Mar Mediterrâneo.
Há algo nesses prédios que marcam a passagem do tempo que é quase poético.
Mas era domingo e o povo na rua, ao sol com uma temperatura ainda fresca, pedia sorvete.
O gelato (sorvete) é uma instituição na Sicília. E domingo é dia de passear com a família para tomar sorvete e laranjada (apesar de nesse ano a laranja ter ficado tão barata que muitos produtores preferiram nem colhê-la, ainda é a fruta preferida dos sicilianos. Pelas regiões rurais, no entorno da cidade, se pode a ver as árvores carregadas com os frutos estragando no pé).
A população forma filas em frente aos quiosques e aos carrinhos de sorvete.
Esse servia uma uma gostosura em especial: brioche recheado com sorvete. E o pessoal come com vontade! (É delicioso, gente! uma refeição!)
Claro que também tive que provar. Com vocês, meu primeiro sorvete em solo italiano (porque é também minha primeira vez na Itália)! Pistachio e nozes.
As vespas estão por todos os lados. Mesmo que nem todas tenham essa marca, é assim que são conhecidas.
Não me pergunte como, mas minha paixão porteña me seguiu até aqui. Tirei essa foto para mandar aos amigos que moram em Buenos Aires, mas precisava dividir com vocês também.
A tarde já caía e as cores da cidade ficavam ainda mais belas.
Nos detalhes das ruas e da arquitetura, traços do barroco, que é forte na cidade e na ilha da Sicília.
Por mais simples que seja o prédio, as floreiras estão sempre bem cuidadas. É primavera na Europa.
E não posso deixar de contar pra vocês sobre os cães. Simpáticos como o cara aí da foto, são tão afáveis quanto os donos. Quer ver um catanês feliz? Faz festa e elogia seu cão. Não sei qual deles fica mais animado. Eu, óbvio, paro de bichinho em bichinho…
Continuei a caminhada e me deparei com a Via Santa Filomena. Vários restaurantes, um ao lado do outro. Decidi que era aqui que jantaria, depois de caminhar mais um pouco.
E voltei mesmo, para comer pela primeira vez a Pasta Alla Norma, especialidade de Catania.
Se trata de uma massa (aqui no caso um pappardelle largo) com molho de tomate, ricotta salata (a ricota ressecada e envelhecida, com mais sal) e berinjela frita. Gente, é uma maravilha! Ainda estou procurando a receita para levar ao Brasil e tentar fazer igual. Para quem não gosta de carne, principalmente, é uma ótima opção.
E acompanhei com um prato de frutos do mar com molho picante. Vou contar: ganhei esse prato do garçom. O povo catanense é extremamente generoso com comida. Pude comprovar isso em outras oportunidades. Não conseguia decidir entre frutos do mar e o prato local, que acabei escolhendo. O garçom voltou com essa entrada, dizendo: “você parecia estar precisando muito disso”. E estava!
O lugar se chama Filomena Osteria Moderna (Via Santa Filomena, 40, Catania, Itália). A massa custou EUR9 (pouco mais de 30 reais. Repetindo – até para não esquecer, ainda estou em meio à viagem e tem muita estrada pela frente – o euro está caro para os brasileiros!). O bom é que existem outros lugares – deliciosos – onde se come por até EUR5 a mesma massa.
O carretto siciliano
Mas antes de jantar caminhei até a praça mais famosa da Catania, a Piazza Duomo.
E tive a sorte de assistir ao carretto siciliano, tradicional na história da ilha.
A tradição de decorar cavalos e carroças remonta ao passado da Sicília. Enquanto os nobres ostentavam carruagens ricas e exuberantes, a população mais pobre descobriu que também poderia deixar seus cavalos e carroças mais bonitos. Desenvolveram então técnicas de entalhe e bordado cada vez mais primorosas, e usavam esses cavalos e carroças para trabalho e locomoção.
Os artesãos hoje são em menor número, mas há um trabalho para que essa arte não se perca.
A qualidade dos detalhes e do trabalho impressiona.
Antes de terminar esse post, mais um detalhe dessa praça. Você vê o elefante no centro da praça?
Vou aproximar a imagem.
Não consegui entender onde um elefante apareceria na história da Sicília. Mas conversando com especialistas locais, entendi que nada mais é do que a prova da proximidade de outros povos, especialmente da África, na cultura daquele povo. O elefante é símbolo da persistência e da força desse povo: mesmo com tantas tentativas de conquista, sempre se manteve firme e em unidade.
Logo conto mais dessa cidade: as ruínas romanas e gregas espalhadas pela área central são uma aula de história.
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