O Caderno Viagem de Zero Hora me convidou para contar um pouco de Buenos Aires no estilo #RoteirodaSara. Escolhi quatro lugares que adoro da capital portenha que têm tudo a ver com o circuito off-turist. Confere!
Fui pela primeira vez a Buenos Aires em 2007. Doze dias sozinha, hospedada em San Telmo — um dos bairros mais antigos da cidade —, descobrindo a capital argentina. Fiz as visitas obrigatórias: Casa Rosada, Avenida de Mayo, Café Tortoni, Caminito.
Depois, retornei em muitas ocasiões. Volto no mínimo duas vezes por ano. Minha paixão só aumenta. Quero viver Buenos Aires como os portenhos — a vida da cidade me fascina.
Não fujo dos lugares turísticos — o Café Tortoni, por exemplo, é parada obrigatória se não tiver fila, o que é cada vez mais raro! — em todas minhas visitas. O que eu gosto, mesmo, é de matar a saudade do tradicional e conhecer o novo. Para quem quer adicionar ao seu roteiro alguns lugares tradicionais para os portenhos, dou algumas sugestões:
Acassuso
O Rio da Prata tem uma costa incrível, onde os portenhos adoram passar os fins de semana. Chegam para o almoço, pedem drinks e aproveitam o dia até o sol se pôr. Um desses lugares é o restaurante La Ventola. Fui em um domingo e me caiu o queixo quando vi aquela paisagem incrível, com mesas espalhadas pelo gramado — nenhuma muito próxima da outra.
O cardápio vai de carne da parrilla até uma caçarola de frutos do mar. Carta de vinhos, sobremesa e aquela sensação de que a vida não precisa ser muito melhor do que aquele momento.
Acassuso fica na Grande Buenos Aires. Para chegar, a linha de trem Tigre que sai da Estação Retiro é uma opção. O Tren de La Costa (turístico) deixa mais perto, na estação Barrancas. Também é possível contratar um táxi ou remis (esse último uma opção mais barata com valor informado antes da viagem).
La Ventola. Elcano, 1.700. Martinez
El Nacional
Quer viver a verdadeira experiência de um almoço no centro de Buenos Aires? Em frente à Igreja das Luzes e do Colégio Nacional, El Nacional recebe praticamente a tarde toda gente para almoçar. Trabalhadores, estudantes, funcionários públicos — fica próximo da Casa Rosada e dos prédios do governo na região.
Comida com preço acessível e muito saborosa, o toque especial é perguntar pela Mabel, garçonete que trabalha lá há 14 anos. Apresente-se dizendo que você é brasileiro, de Porto Alegre, e que a Sara sugeriu o lugar. Ela vai gargalhar, cheia de simpatia, chamar as colegas e sugerir uma mesa na janela — melhor coisa é almoçar olhando o movimento da rua de pedestres que tem na frente.
Peça um vinho e curta o “espírito de Buenos Aires”.Para sobremesa? Duraznos con crema (pêssego em calda com creme de leite). Eles servem originalmente com uma nata batida com açúcar, mas eu prefiro o tradicional crema de leche.
Ouça as conversas e perceba um outro lado incrível da capital portenha.
Bolívar, 220. De segunda a sexta
Barrio Chino
Almoço de sábado? Vá ao Bairro Chinês. O difícil é escolher o restaurante: são vários, um ao lado do outro. O bairro de Belgrano se transforma em uma festa de cores e de sons: em algumas lojas, entender o espanhol dos donos é um desafio. Lembra do filme Um Conto Chinês, com Ricardo Darín? Por todos os lados, é fácil identificar as locações.
Passeie pelos corredores dos supermercados e deixe o preconceito de lado: você verá comidas, ou partes de comida, que nunca imaginou. Aproveite para comprar chás e apetrechos. É um pedacinho da China na Argentina.
Da última vez, fui ao restaurante Todos Contentos (um nome bem espanhol para um restaurante chinês). Pedi uma carne ensopada com legumes e vários tipos de cogumelos. Maravilhoso.
Todos Contentos: Arribeños, 2.177
Anciens Combattants
Um dos mais tradicionais restaurantes franceses da cidade não está na Recoleta ou em Palermo. Fica em Constituición, bairro histórico que, hoje, pela falta de organização e de apoio aos imigrantes que chegam, é conhecido pelo tráfico de drogas e pelo trottoir noturno feminino. Mesmo assim, vale se organizar. Reserve antes (não chegue sem reserva), confirme o horário que vai chegar e se prepare para voltar no tempo.
O casarão de 1900 era a casa de hóspedes da Família Canale (da imponente fábrica Bizcochos Canale, que se vê ao chegar no bairro La Boca). A partir da década de 1940, tornou-se sede da União de Combatentes Franceses. O pé direito alto, o madeirio antigo, tudo faz do lugar um museu: até peças da armada napoleônica podem ser encontradas lá. Troféus, memorabilia. É uma experiência única.
A chef é a argentina Laura, que começou como cozinheira no Anciens há 24 anos.
Pedi um lomo de boeuf con roquefort (filé com fatias de queijo roquefort)
Minha amiga pediu um magret de canard (pato tão maravilhoso que juro que queria o dela).
A cada temporada, o cardápio muda. São quatro por ano. Mas não espere uma carta de vinhos francesa: há bons rótulos argentinos. E não tenha medo: se um restaurante consegue sobreviver naquela vizinhança, é porque a experiência vale a pena.
Santiago del Estero, 1.435
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