Em 2022, o single “The Fool On The Hill” completa 55 anos. O hit foi inspirado em uma história real protagonizada por Paul McCartney e envolve duas palavrinhas mágicas: criatividade e espiritualidade.

CONHEÇA A HISTÓRIA

Em meados de 1967, durante um passeio de Paul com o seu amigo Alistair Taylor e sua cadela, Martha, a PET escapou da coleira e fugiu.

Segundo Taylor, ele e McCartney começaram a procurar por Martha assim que se deram conta de seu desaparecimento, até chegar em uma colina (“hill”, em inglês) e se depararem com uma baita vista de Londres.

Ali, os dois divagaram por um momento sobre a existência de Deus, enquanto o sol poente coloria a paisagem londrina com seus tons alaranjados, como cantou McCartney em uma das versões da música.

Foi então que um homem apareceu misteriosamente atrás dos dois amigos e teceu um comentário sobre a beleza do pôr do sol que iluminava a capital inglesa, completamente encantado pelo que via.

Quando McCartney se virou para responder, o homem já não estava mais no mesmo lugar, gerando espanto e encantamento na dupla de amigos que buscava compreender o que havia vivenciado.

Quem conta a história é o próprio Alistair Taylor, em parceria com Martin Roberts, no livro “Yesterday: The Beatles Remembered”, biografia na qual narra o período de sua vida em que acompanhou os “Fab Four” pelo mundo.

A ESPIRITUALIDADE DESPERTOU A ARTE

Foi naquele momento de suspense e magia que a história de “The Fool On The Hill” começou a se desenrolar.

Paul McCartney e o amigo se entreolharam, desconfiados, e passaram a procurar o sujeito, que parecia ter sumido no ar, já que não havia nenhuma árvore, arbusto ou qualquer outro lugar para se esconder em um raio de muitos metros.

Quem era aquele homem? Seria Deus ou um delírio? Como alguém poderia aparecer e desaparecer do nada, sem deixar rastros, em uma fração de segundos?

McCartney e Taylor, que posteriormente garantiram não estar sob o efeito de nenhuma droga, nunca descobriram a resposta para essas perguntas, mistério que virou verso da canção.

No dia anterior ao curioso episódio, a dupla tinha apenas tomado refrigerante e uísque em um bar, sem exagerar na dose, o que fez com que os amigos apenas concordassem que tinham vivido um momento especial e inexplicável.

Inspirado pelo que havia acontecido, Paul McCartney decidiu, então, compor uma canção sobre “o tolo na colina” (ou The Fool On The Hill), que acabou se tornando a segunda faixa do álbum dos Beatles “Magical Mystery Tour”.

Escute o single dos Fab Four:

O projeto rendeu mais de 7 milhões de cópias vendidas em todo o mundo e uma indicação ao Grammy, além de ter levado os Beatles mais uma vez ao topo das paradas dos EUA, Canadá e Reino Unido.

TEORIAS ALTERNATIVAS DESSA HISTÓRIA

Em 2021, com o lançamento do livro “The Lyrics: 1956 to the Present”, escrito por Paul McCartney, foi o próprio ex-beatle que introduziu uma versão alternativa da história da faixa.

Além da caminhada com Alistair Taylor na região de Primrose Hill, em Londres, a música seria também inspirada no conselho espiritual dado pelo guru dos Beatles, Maharishi Mahesh Yogi.

O artista explica que a canção é um elogio à capacidade do líder espiritual em se manter pleno e imóvel em meio ao caos, muitas vezes se expondo ao ridículo e sendo visto como “tolo” por suas crenças, como mostra a primeira estrofe da faixa.

“Day after day, alone on a hill
The man with the foolish grin is keeping perfectly still
But nobody wants to know him
They can see that he’s just a fool
And he never gives an answer […]”

O SINGLE PÓS-BEATLES

Muito se engana quem pensa que a história de “The Fool On The Hill” acaba quando os Beatles se separam, em 1970. A música é mais uma entre os hits compostos por Paul McCartney que se tornou um fenômeno de regravações.

A versão mais famosa foi gravada por Sérgio Mendes & Brasil ’66 em 1968, com uma roupagem diferente e um ritmo de bossa nova embalado por cordas: o cover fez tanto sucesso que chegou ao #6 na Billboard Hot 100, nos EUA.

Escute agora:

Impressionado, o próprio Paul McCartney fez questão de escrever uma carta a Sérgio Mendes para agradecê-lo por sua versão da faixa.

Ao longo da década de 1970, a música ficou entre as composições de McCartney mais regravadas, ganhando covers de Shirley Bassey, Sarah Vaughan, Björk, Aretha Franklin, Zé Ramalho e Eurythmics, entre outros grandes nomes da música.