Uma apresentação de Seu Jorge realizada na sede do Grêmio Náutico União (GNU), em Porto Alegre, na noite da última sexta-feira (14), resultou em relatos de atos racistas cometidos por parte da plateia.
O cantor afirma ter passado a ouvir ofensas após apresentar o artista Pedrinho da Serrinha, um adolescente negro de 15 anos que fazia parte do show.
“Quando a gente olha para um garoto de 15 anos, adolescente, e ele é branco, a gente continua vendo um adolescente. Mas, muitas das vezes, quando a gente olha para um adolescente negro de 15 anos, a gente pensa em redução da maioridade penal”, disse o artista em entrevista à Globonews.
O músico de 52 anos rebate as críticas de que teria politizado o show.
“Não estava politizando nada. Estava simplesmente fazendo uma fala muito importante porque temos que combater o genocídio da juventude negra no Brasil”, afirmou.
Uma testemunha ouvida pelo Portal G1, que prefere não ser identificada, faz o mesmo relato.
“Em um determinado momento, chamou um menino que toca cavaquinho, apresentou ele, disse que tinha 15 anos, falou que era um talento e, nesse momento, falou sobre a maioridade penal, quis dizer que a questão não é prender mais cedo ou mais tarde e sim dar condições para esses jovens”, disse.
Em seguida, pessoas presentes na plateia começaram a ofender Seu Jorge, comenta a testemunha.
“Começaram a gritar ‘mais um, mais um’, mas, logo em seguida, alguns sons de ‘uh, uh’. Primeiro, eu pensei que estavam vaiando. E já parecia estranho pra mim uma pessoa em um show começar a vaiar. Depois, eu vi que eram sons de macaco. Cheguei a ouvir ‘negro vagabundo, vagabundo’ e, depois, pessoas gritando ‘mito, mito'”, contou.
Paulo José Kolberg Bing, presidente do clube, deve prestar depoimento na quinta-feira (20). A delegada Andréa Mattos, titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), afirma que vídeo mostra cantor sendo chamado de ‘macaco’.
Na terça-feira (18), o Ministério Público abriu um procedimento investigatório para apurar condutas ilícitas de cunho racial e danos ocorridos no show.
PRONUNCIAMENTO
Em vídeo gravado na última segunda-feira (17), Seu Jorge dedicou parte de sua mensagem à população negra do estado.
“Ao povo negro do Rio Grande do Sul e de toda a região do Sul, quero dizer que amo todos vocês, e admiro, respeito. E digo também que estamos mais unidos do que nunca e que vamos vencer essa guerra que segrega o nosso povo à miséria e à falta de oportunidade no Brasil”, declarou.
Assista o pronunciamento completo:
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Inúmeras celebridades manifestaram solidariedade ao artista. A cantora Paula Lima, o jogador Daniel Alves e a jornalista Flávia Oliveira ressaltaram a necessidade de se enfrentar o racismo. Autoridades locais também comentaram o caso.
“É de coragem a nossa matéria. Parabéns e obrigada pelo posicionamento indignado, firme e, apesar de tudo, afetuoso. Seguimos. ✊🏾”, comentou a jornalista.
O GOVERNO GAÚCHO NÃO SE CALOU
“Expresso o meu repúdio a todo e qualquer ato de ofensa que o cantor e a comunidade negra sofreram. Como governador do Rio Grande do Sul, peço desculpas. É dever de todos combater o racismo estrutural”, declarou o governador do RS, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB).
“Independentemente, reforço meu pleno repúdio a qualquer tipo de racismo, que é crime. O combate ao preconceito não pode ser politizado, e confiaremos na apuração policial dos fatos”, disse o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB).
Racismo é abominável, inaceitável e, principalmente, crime! A Lei Nº 7.716, de 05 de janeiro de 1989, define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Para denunciar, em caso de emergência, ligue 190. Se o crime já ocorreu, procure a autoridade policial mais próxima e registre a ocorrência.
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