Ontem aconteceu um show de rock em Porto Alegre. Ontem aconteceu um show de rock de verdade em Porto Alegre.
Como toda informação tem um ponto de origem que deve ser levado em consideração: esse que vos escreve é um fãboy assumido (se Jack quisesse se aventurar no universo do sertanejo universitário, ouviria, e argumentaria o quão vanguardista o Sr. White é). Porém, o espetáculo musical que 4,5 mil pessoas presenciaram no Pepsi On Stage na noite de ontem fora tão forte, tão intenso, que minha total parcialidade se torna pequena frente aos fatos: Jack é, com toda certeza, um dos maiores músicos da atualidade.
O som, a música é o que importa. Não vá a qualquer espetáculo que seja, de qualquer dos mil projetos de Jack White sem ter isso em mente. Nosso músico flerta com clássicos gêneros musicais, de um passado não tão distante, e ele faz questão de exteriorizar isso com suas roupas e instrumentos vintage e sua ambientação de palco retro. Contudo, a preocupação estética visual de nosso amado bad boy de Detroit vai só até aí. Logo no começo da apresentação, um tradutor acompanhado de um roadie vestido impecavelmente como um garboso mancebo dos anos 50 anuncia: “não filmem, não tirem fotos. Nós temos um fotógrafo profissional que irá disponibilizar todo o material gratuitamente amanhã em nosso site. Não assista ao show pela telinha do celular, aproveite tudo isso que nós montamos pra você!”
Tomamos aquilo como lei! (“tomamos”, pois me incluo na manada que mais além entraria em transe olhando para o palco). Pouquíssimos smartphones foram bradados. Admito: adorei a iniciativa. Vi o show, e não vários logos de marcas de celular.
Vi Jack abrir o show com White Stripes e vi todo aquele swing-obscuro-dançante de Lazaretto e vi o peso monstruoso que ele deu para as releituras do Raconteurs (destaque para broken boy soldier, música que encerrou o set antes do bis). Vi uma banda de instrumentistas tão brilhantes que achava que existissem apenas no distante universo do Youtube. Aqui quero fazer uma pausa e falar uma linha que seja sobre Daru Jones. Daru é o baterista, que a cada nota ou rolo para virada de ritmo olhava fundo nos olhos do nosso frontmen e parecia ler o próximo passo de um Jack White aos berros e trêmulo de tanta gana posta na guitarra. Jones foi tão sensacional, imagine só, que conseguiu rivalizar a minha atenção (e a de todos os 4,5 mil espectadores) em relação ao meu ídolo. Daru Jones! Se percussão é seu canal, lembre desse nome.
Poderia dizer que senti falta de alguns sons, até porque senti. Poderia dizer que nos primeiros 5 mim (apenas nos primeiros 5, garanto), o som estava abafado pelos graves. Mas não. Me sinto na obrigação de abstrair isso diante de um Jack White descabelado, ofegante e encharcado de suor e talento. Jack tocou pra si na noite de ontem, como sempre tocou, deixando a sua total entrega ao seu som tão aparecente que sem exagero algum, foi de dar um nó na garganta.
Ontem ouvi e vi música.
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